domingo, abril 03, 2011

A ÚLTIMA INSPIRAÇÃO


Por muito tempo enveredei por estes caminhos tortuosos, sozinho. Algo de esquecido nos processos enclausurados pelo luto convencionado... Revirei a terra em busca daquilo que, sob sua frieza, simplesmente passava oculto. Exumei o que é mantido em segredo, expus as carnes podres sem pestanejar, os odores mefíticos trouxe à tona! Degenerações tanto físicas quanto mentais, tudo aquilo que é enclausurado, em sua crueza mais torpe.



Entre palavras enlameei as mãos, assim como as cobri com o sangue ora rubro, ora enegrecido fora da circulação. Pelas entranhas, o gosto pelo grotesco se misturou ao muco, às excretas tão animais, impregnando em minhas narinas o cheiro que exala o corpo inerte. Infantes em matadouros, vilipêndios de carcaças ora já em suas tumbas, ora apodrecendo sob a sombra d'uma árvore ou até "queimando" e sendo devoradas sob o sol escaldante. E todos apreciaram... Minha própria morte, experiências pós-mortais, cárceres privados, toda a sorte de relatos, de sangrias, de cânceres... À matéria, única coisa que importa, o seu fim. Não me arrependo de evocar em palavras a monstruosidade e a animalidade - quem sabe natureza, algo que duvido muito que exista, destes bichos feitos imagem e semelhança de alguma divindade que se auto-intitula: pai.



Caminhei a maior parte do tempo sem rimas, numa obscuridade, nunca as procurei e as que uma hora ou outra se mostraram ficaram a total encargo do acaso. Nunca considerei-me poeta, no máximo, por vezes, um doudo. Sem remorso algum, para o bem da verdade. Rimas não foram os alvos que tive em mente ao retirar de minhas próprias entranhas estas calamidades... Não me importo que outros as busquem, afinal. E para ti que até aqui caminha os olhos sobre estas linhas, minha última inspiração, em ambas as possibilidades, só me resta evocar as palavras d'um poeta: "Por ventura, meu Deus, estarei louco?!
Daqui por diante não farei mais versos."



Nem verso, nem prosa. Nada mais me interessa. Muito menos tuas palavras

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